sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Wilson está no bar, com todos os amigos do trabalho. As conversas são basicamente as mesmas, só o volume e a euforia, parte causada pelo álcool, aumentam um pouco. Mas, apesar de participar da conversa, o faz com certa distância. Nada proposital, até porque Wilson sempre foi dos mais animados. Sua cabeça canta um mantra triste. Canta o fim. Wilson descobriu que vai morrer.
Um câncer descoberto nessa mesma tarde já em estado avançado cobre seu pulmão de negro. Os anos de abuso de tabaco, e uma certa carga genética são os prováveis responsáveis. O que preocupa Wilson não é a morte, ele sabe o que lhe espera, e não teme. Não vai ser hipócrita justo agora. Sabe que é o nada que lhe aguarda de braços cruzados, porque abertos é que não estariam. O que está lhe corroendo é a incerteza do quando. Wilson sempre odiou surpresas.
Wilson sempre planejou tudo. Onde e o que estudar, por quem se apaixonar. Com quem casar e quando e quantos seriam seus filhos. Foram dois. Onde e o que estudariam. Wilson quase morreu ao saber da gravidez de sua filha mais velha. Não foi assim que havia planejado ser avô. Mas pelo menos o nome do menino foi como havia planejado. Bernardo. Wilson não é má pessoa, tem, como todos, seus defeitos. Mas sempre foi ótimo pai e marido. Não poderá ser ótimo avô, porque a morte não deixará.
Wilson acende um cigarro, abre a carteira para pagar sua parte da conta, vê a foto do neto e sai do bar. Wilson joga o carro da ponte e deixa um bilhete que diz: "Desculpem-me, eu não poderia esperar."

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