A porta automática abriu quando por sensores notou sua presença. Passou a portaria, entrou no elevador. Pediu pelo quarto andar ao ascensorista. Entrou na sua baia. Pousou o paletó no gancho ao lado da mesa em forma de “L”. Começou mais um dia de trabalho. Fez duas ligações. Notou que, mais uma vez, furtaram sua caneta. “Absurdo” pensou, “meu nome estava escrito nela”, completou. Checou o e-mail da empresa. Pouco mais de dez mensagens. Checou o de uso pessoal. Zero. Resolveu as pendências até o meio dia. Desceu para o almoço.
A porta automática abriu quando por sensores notou sua presença. Resolveu ir ao outro restaurante. Não àquele que vai diariamente, mas o mais caro. Olhou a carta e pediu lagosta. Comeu o suficiente, pediu café curto e conta. A porta automática abriu quando por sensores notou sua presença. Pediu o quarto andar. Checou novamente o e-mail pessoal. Zero. Checou o profissional. Dois. Resolveu o que faltava. Olhou quando ela passou. Olhou através da janela alguns metros à direita. Sua baia é central.
Telefonou de seu celular para o serviço de acompanhantes. Pediu a de sempre, mas com um extra. Que trouxessem-lhe um bolo. Pegou o metrô. Abriu a porta de casa, a geladeira e uma cerveja. Sentou-se junto da TV e assistiu ao noticiário, enquanto esperava sua “encomenda” e lembrou que no momento em que porta automática abriu quando por sensores notou sua presença pensou ter ouvido-a falar “feliz aniversário”
domingo, 29 de maio de 2011
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Quando o céu deixa de ser azul.
Passei um tempo sentado junto ao batente da porta. Vi os tons em azul mudando. Um tempo que passou sem eu sentir. Ontem eu também estava sentado no mesmo lugar. Minha casa era basicamente a mesma. Minha vida completamente diferente. Nos dez anos que passaram de ontem para hoje perdi e ganhei tempo. Ontem tinha um outro cachorro deitado olhando para o portão. Hoje fumei enquanto esperava o tempo passar. Nem lembro mais sobre o que pensava tanto. Talvez nada que mereça a recordação. Mas de certa forma eu tenho saudades de como fui ontem.
Quando pensei o quanto minha vida mudou em um dia foi que vi o tempo que durou. Hoje já não me espanto tanto com o outro. Deveria ter feito um diário. Queria poder ler o que escrevi dez anos atrás. Queria poder saber como cheguei aqui. Agora o tom de azul mudou para lilás, isso quer dizer que mais um dia vai embora. Será que quando eu acordar amanhã terei dez anos a mais?
Se você acha que esse texto está estranho, tente recordar sua vida. Quando os clarões de tempo aparecerem você verá que o tempo também passou. Ontem você também via o céu mudando de azul para lilás.
Quando pensei o quanto minha vida mudou em um dia foi que vi o tempo que durou. Hoje já não me espanto tanto com o outro. Deveria ter feito um diário. Queria poder ler o que escrevi dez anos atrás. Queria poder saber como cheguei aqui. Agora o tom de azul mudou para lilás, isso quer dizer que mais um dia vai embora. Será que quando eu acordar amanhã terei dez anos a mais?
Se você acha que esse texto está estranho, tente recordar sua vida. Quando os clarões de tempo aparecerem você verá que o tempo também passou. Ontem você também via o céu mudando de azul para lilás.
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Quando eu ficar velho.
Sentado no banco do calçadão, de costas para o movimento das pessoas que passam a correr, andar, pedalar e conversar, eu penso na vida que tive. Por volta das cinco e meia da tarde, hora que o sol cansa, dá a última espreguiçada e se recolhe para o sono devido aos trabalhadores. Afinal, de todos ele é o mais responsável. Falta apenas quando a gripe causada pela chuva o apanha. Mas o sol da minha cidade falta pouco ao trabalho. O inferno deve ter uma brisa mais amena. Eu sempre achei engraçado o cuidado que as pessoas têm com o corpo e a saúde. O fim é sempre o mesmo. Mas eu adaptei o ditado a algo que se assemelha mais ao meu vocabulário chulo, “da merda à merda”.
Não conseguir escrever um texto com início, meio e fim deixa qualquer cidadão puto. Todo mundo morreu, tenho oitenta e cinco anos. Minha mulher era estéril, não tive filhos. Cachorro, gato, peixe chupa-pedra, ou qualquer desses substitutos não geram nenhum afeto em mim. Então eu prefiro ficar só. O pior é que fiz uma cirurgia uns anos atrás que prejudicou o funcionamento da minha bexiga, mijo a cada 30 minutos. Como podem imaginar, minha autonomia é uma piada. Não posso ver um filme inteiro no cinema. Já perdi uma cartela premiada no bingo. Tudo porque mijo tanto quanto um bebê.
Nem pense que acho ruim ser velho assim. Na verdade acho revigorante. Xingo sem parar no meio da rua. Coço o saco, arroto, peido e tusso sem piedade. “Pobrezinho, já está senil”. Todo merdinha que fura uma fila ouve um “filho da puta” em troca do lugar roubado. Volto para casa com a metralhadora de obscenidades tinindo. A pior parte é não ter para quem contar os desaforos que falei. Não poder contar como é ruim urinar a cada trinta minutos. Não poder contar a tristeza que é falar apenas essas porcarias. Não ter com quem compartilhar os últimos “vá para a puta que o pariu” da minha vida.
Não conseguir escrever um texto com início, meio e fim deixa qualquer cidadão puto. Todo mundo morreu, tenho oitenta e cinco anos. Minha mulher era estéril, não tive filhos. Cachorro, gato, peixe chupa-pedra, ou qualquer desses substitutos não geram nenhum afeto em mim. Então eu prefiro ficar só. O pior é que fiz uma cirurgia uns anos atrás que prejudicou o funcionamento da minha bexiga, mijo a cada 30 minutos. Como podem imaginar, minha autonomia é uma piada. Não posso ver um filme inteiro no cinema. Já perdi uma cartela premiada no bingo. Tudo porque mijo tanto quanto um bebê.
Nem pense que acho ruim ser velho assim. Na verdade acho revigorante. Xingo sem parar no meio da rua. Coço o saco, arroto, peido e tusso sem piedade. “Pobrezinho, já está senil”. Todo merdinha que fura uma fila ouve um “filho da puta” em troca do lugar roubado. Volto para casa com a metralhadora de obscenidades tinindo. A pior parte é não ter para quem contar os desaforos que falei. Não poder contar como é ruim urinar a cada trinta minutos. Não poder contar a tristeza que é falar apenas essas porcarias. Não ter com quem compartilhar os últimos “vá para a puta que o pariu” da minha vida.
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Seis.
Em um dia ele viu. Em dois minutos se apaixonou. Em dois dias beijou. Em um mês namorou. E hoje, completam-se seis meses. Seis meses que ele acorda mais feliz. Seis meses que ele dorme com a cabeça mais leve. Seis meses que passaram muito rápido. Eu disse que estava lá, e que sabia que voltaria a escrever sobre eles novamente. Cumpro minha promessa lançando outra. A de voltar para atualizar-lhes de como eles vão indo.
Só um último comentário. Lembram-se de quando eu escrevi sobre as pernas bambas dele? Pois é, continuam assim.
Só um último comentário. Lembram-se de quando eu escrevi sobre as pernas bambas dele? Pois é, continuam assim.
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